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Alimentação em tempos da Pandemia do COVID-19

   

Alimentos não são vetores do vírus, denominado Corona, mas a falta dele pode comprometer a nossa resistência a doenças infecciosas, em geral. Não poder contar com o alimento em quantidade e qualidade satisfatórias para atender às nossas necessidades nutricionais diárias é uma das causas que nos leva a
inferir que os menos favorecidos estarão menos protegidos em tempo de pandemia viral.

Nossa resistência a doenças, inclusive de origem viral, é proporcional aos cuidados que temos com a alimentação. A má alimentação é apontada como a principal causa de outra epidemia, a obesidade, sendo esta a desencadeadora de outras doenças, igualmente pandêmicas que levam a reduzir a possibilidade de cura por viroses agressivas. O ideal é pensar no alimento antes da sua ingestão, mas, na prática, o contrário ocorre e associado a isto está a busca por medicamento na vã intenção de reparar um ato irresponsável.

Vírus são seres diminutos acelulares que utilizam organismos menos protegidos para se multiplicarem, de modo que, quanto mais protegidos estivermos, menos graves serão as viroses por eles produzidas. As viroses são reincidentes e devemos nos proteger sempre. Além da alimentação saudável, o uso contínuo de microrganismos probióticos é uma potente arma para prevenção de doenças em geral. Isto porque eles são reguladores do nosso organismo e competem com microrganismos indesejáveis gerando aumento da imunidade, dentre muitos outros benefícios.

Diante de uma doença que não exclui ninguém ao risco estimado de acometimento devemos ser mais responsáveis com a nossa produção de saúde e, consequentemente, com a nossa imunidade. Isto não se consegue com uma refeição ou com uma dieta passageira. O hábito da alimentação saudável, em busca do aumento da resistência a viroses deve ser continuado e pode ser um ganho a ser deixado pela cruel experiência que estamos passando no ano de 2020.

Dentre os muitos benefícios, a prática de alimentação saudável é a forma mais eficiente para prevenir doenças infecciosas ou metabólicas. Isto deve começar na aquisição de matéria-prima com qualidade confiável nos vários aspectos e vai até a escolha dos produtos industrializados. Ambos são recomendados, porém com sabedoria. Devemos basear nossas refeições em preparações elaboradas, principalmente, a partir de material cru e alguns alimentos processados como coadjuvantes.

Devemos aproveitar o confinamento compulsório para explorar habilidades culinárias, descobrir e criar formulações junto com a família. Tais hábitos vão gerar satisfações emocionais e qualidade de vida desejada.

RECOMENDAÇÕES PARA ESCOLHA DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS
 

A importância de adquirir alimentos saudáveis e como mantê-los em bom estado para consumo é de suma importância. Os alimentos devem ser bem acondicionados e guardados em local apropriado, de acordo com suas especificações. Os microrganismos disputam os alimentos com os seres humanos, tornando-os inapropriados para consumo. Ao consumir estes alimentos pode-se ter toxinfecções alimentares. Para prevenção de doenças a partir do alimento temos que observar a temperatura utilizada na sua conservação, além das características sensoriais, como aroma, cor, textura e aspecto.

Frutas: por serem fontes de vitaminas, minerais, fibras e compostos antioxidantes não devem ser subestimadas nas recomendações diárias. A fim de reduzir a frequência às compras procure adquirir as menos perecíveis, porém com similar valor nutricional. Como exemplos, laranja, limão, maçã, banana, uva, melão, mamão e manga. Estas apresentam vantagens por serem apreciadas ao natural, em sucos ou batidas com possibilidade de acréscimos de itens, como cereais que irão elevar ainda mais seu valor nutricional.

As frutas que apresentam maior atividade metabólica (perecibilidade) além de exigirem conservação em temperaturas adequadas devem ser guardadas, após a higienização, com solução sanitizante (1 colher de sopa de água sanitária a 2%, para 1 Litro de água) e enxaguadas com água corrente com qualidade garantida. No caso da temperatura climática do Nordeste, guardar frutas sob refrigeração é a melhor opção. Use os compartimentos da geladeira, localizados na parte de baixo, onde a temperatura fica em torno de 100C. Assim evita-se a queima pelo frio que resultará em alterações e, consequentemente, na perda.

Hortaliças folhosas: são ricas em vitaminas e fibras, porém muito perecíveis. Ao comprá-las faça imediatamente a higienização. Devem ser lavadas folha por folha com água corrente e em seguida imersas em solução sanitizante por, no mínimo, 15 minutos. Depois remova o excesso de água com auxílio de peneira ou centrífuga doméstica. Mantenha-as em recipientes tampados até o momento do uso. Assim, elas
vão se manter por, no mínimo, uma semana. Hortaliças não folhosas: neste grupo encontra-se grande variedade.

Procure adquirir aquelas que são menos perecíveis, como por exemplo vagem, couve- flor, chuchu, beterraba, repolho, brócolis etc. Todas são fontes de vitaminas, fibras e compostos antioxidantes em concentrações variadas. Por esta razão recomenda-se consumir várias delas e de diferentes formas: cozidas, assadas, em forma de purê etc.

Quanto mais itens têm a sua salada, mais colorido é o prato e mais nutritiva será a refeição.

Raízes: ricas em fibras, sais minerais e carboidratos. Substância esta, com função energética, combustível para o organismo. Como exemplo temos macaxeira, inhame, cará, cebola, batata inglesa, batata doce, cenoura etc. Esses alimentos não exigem conservação sob refrigeração e podem ficar em locais abertos com boa ventilação e com ausência de umidade e de luz solar direta. Igualmente energéticos como as raízes, ricos em fibras e carboidratos temos banana da terra e fruta-pão que também podem ser mantidos nas mesmas condições das raízes, ou seja, em ambiente ventilado e protegido do sol.

Cereais: além de fornecerem energia devido os carboidratos contidos, serem fontes de vitaminas e sais minerais, são fonte de proteínas. Estas participam da construção, crescimento, regeneração e substituição de
tecidos do nosso organismo. Por serem produtos secos podem ser armazenados por um período mais longo, em temperatura ambiente. Dê preferência aos cereais integrais, por serem mais nutritivos. As farinhas resultantes do trigo e do milho são produtos industrializados que muito facilitam a criação e elaboração de preparações. Os macarrões elaborados, geralmente, a partir da farinha do trigo, são opções de preparações rápidas e, por esta razão estão muito presentes na mesa do brasileiro. Mesmo por isso, os de preparação
instantânea não devem ser preferidos, ou mesmo rejeitados.

Leguminosas: apresentam alto valor nutritivo e constituem a base da alimentação do brasileiro. A combinação do cereal arroz + feijão é uma mistura bem balanceada em termos de nutrientes. A diversidade de cores e
tipos de feijões (preto, branco, mulatinho, carioquinha, corda/macáçar) permite variações dos cardápios e de preparações. As ervilhas, lentilhas e grão de bico devem também, ser consumidas com frequência em formas de sopa, purê ou cremes.

Pão: considerado um alimento de primeira necessidade e de larga aceitação, porém, diferentemente, do que se pratica não é necessário que seja adquirido em idas diárias à padaria uma vez que, pode ser congelado, prolongando sua vida útil. Ao descongelar, os pães apresentam as mesmas características de um produto novo. Além da versatilidade de usos, quando produzido a partir de farinhas integrais têm seu valor nutritivo elevado. Com uma grande variedade de formatos e sabores, podemos utilizá-lo no café da manhã, lanches e até substituir uma refeição naqueles dias mais comprometidos com reuniões e/ou cursos “on line”, acrescentando recheios nutritivos.

Carnes e Pescado: são as melhores fontes de proteínas para o organismo humano. Na sua composição estão os aminoácidos essenciais que não são produzidos por nosso organismo. Escolha cortes favoritos de carne de boi, porco, aves ou de pescados e mantenha-os sob congelamento em porções adequadas para cada preparação. O descongelamento deve ser de forma lenta, no refrigerador, e a preparação deve ser feita de acordo com o tipo de carne e sua receita preferida. O tratamento pelo calor, seja pelo cozimento, fritura ou assado vai eliminar microrganismos, possivelmente, presentes nas carnes cruas. Em tempos de pandemia evite consumir carnes malpassadas e adquira em locais com condições de higiene e que apresentem garantias de qualidade demonstrada pelo selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF).

Leite e derivados: são fontes de proteínas, vitaminas e cálcio. O mais recomendado tipo de leite é aquele que sofreu o processamento térmico menos agressivo, conhecido como pasteurização, porém, devido a sua menor praticidade por exigir conservação em refrigeração, ter validade de apenas 3 a 4 dias e, consequentemente,
exigir maior frequência na aquisição, recomendamos o consumo de leite em pó, por ter maior tempo de vida útil e poder ser armazenado em temperatura ambiente. Por estas razões, neste momento diferente, quando estamos atravessando uma pandemia, o recomendado é o leite em pó.

O leite em pó apresenta ainda a vantagem de se poder preparar a quantidade exata que será utilizada e assim evitar desperdícios. Ao preparar leite a partir do pó deve-se ter atenção quanto às proporções da mistura, geralmente indicadas nos rótulos, e que a água utilizada seja de qualidade garantida.

Os queijos são também ótimas fontes de proteínas e de cálcio na forma mais concentrada, por esta razão, o consumo de pequena porção diária é suficiente para atender as necessidades nutricionais. Os produtos fermentados de leite como iogurtes, coalhadas e bebidas lácteas além do alto valor nutritivo advindo da matéria-prima, contêm microrganismos vivos, sendo fonte de Lactobacilos até com efeito probiótico, os quais oferecem benefícios ao nosso organismo. Por conterem os desejáveis microrganismos vivos exigem que sejam
conservados em refrigeração.

Ovo: alimento considerado completo. Por ser de muito fácil preparo está sempre presente na alimentação diária. É composto por proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais. Cada um dos componentes exerce uma função específica no organismo humano e por isto contribui com o aumento da imunidade e, consequentemente, com a resistência a doenças, inclusive as de origem viral. Tenha sempre este produto em casa mantido no refrigerador, preferencialmente, em recipiente fechado. O ovo é uma excelente opção para enriquecer o cardápio diário, sobretudo das crianças no café da manhã, lanches ou nas principais refeições nas formas frito, mexido, a lá coque ou cozido.

Alimentos processados: os produtos industrializados são os aliados da vida moderna por facilitar a preparação das refeições, mas nem todos possuem qualidade nutricional recomendada. Escolha aqueles com menos ingredientes na sua composição. No momento da compra leia o rótulo com foco nos ingredientes que fazem parte da composição do produto. Veja também as informações da tabela nutricional para se informar quanto à quantidade de nutrientes na porção recomendada, principalmente calorias, sal ou algum tipo de aditivo, como corante, aromatizante, emulsificante, conservante e até alergênicos. A data de validade dos produtos é também uma informação importante, assim como o local onde devem ser armazenados e como utilizá-los.

Dentre os alimentos processados de origem vegetal recomendamos milho, ervilha, grão de bico e seleta de vegetais em conserva; tomate pelado e polpa de tomate. Os de origem animal como o pescado em conserva como atum, sardinha, cavalinha são opções altamente proteicas e versáteis. Podem compor o recheio de sanduiches para lanches rápidos ou mesmo fazer parte de uma refeição.

Outros alimentos: alguns alimentos não fazem parte da rotina, mas podem suprir um prazer ou pretexto para acompanhar um lazer. Estes podem atender aquela vontade do “comer fora de hora” como alguns “Snacks”. Pipoca para estas situações é uma boa opção, por ter baixo valor calórico e ser boa fonte de fibras. Em época de confinamento devemos preferir as produzidas em casa a partir de milho natural por possibilitar a adição dos ingredientes preferidos e o controle de sal e de gordura.

Nos intervalos das refeições cai bem também o consumo de amêndoas na forma de mix de castanhas, nozes e frutas desidratadas. O consumo moderado de chocolate com elevado conteúdo de cacau (50% ou mais) também é uma boa escolha por ser rico em compostos antioxidantes que trazem benefícios a sua saúde.

Finalmente, vale lembrar que o consumo de água, chás e sucos e uma refeição equilibrada ajudam na hidratação e na regulação do organismo em tempo de exposição a viroses.

Aproveitamos também o momento para pensar com responsabilidade nos nossos hábitos de higiene e na proteção do meio ambiente. Devemos direcionar esforços para o planejamento das compras de alimentos na busca por alternativas que levem a redução dos desperdícios ou aproveitamento total dos alimentos. Assim reduziremos o lixo, praticamos saúde e ajudamos a nossa economia e a do país.

Recife, abril de 2020

Edleide Freitas Pires
Profa. Dra. do Departamento de Tecnologia Rural da UFRPE
Maria Inês Sucupira Maciel
Profa. Dra. do Departamento de Ciências do Consumo da UFRPE