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Pesquisa da UFRPE analisa o impacto "invisível" do óleo no Nordeste

Desde os primeiros registros das manchas de óleo na costa de Pernambuco, um grande esforço tem sido realizado na tentativa de conter os danos aos ecossistemas marinhos costeiros, mas infelizmente as grandes manchas que vemos não são o único problema. Mesmo após a retirada dessas grandes “placas” de óleo, parte desse material fica disperso na coluna d’água e vai sendo degradado em tamanhos menores, sobretudo pela ação das ondas na costa.

Uma parcela quase invisível dos organismos marinhos continua sofrendo impactos mesmo quando tudo parece limpo no mar. A comunidade planctônica, formada por microalgas e diversos outros grupos de seres vivos, como microcrustáceos e larvas de moluscos e peixes, são diretamente impactados por esse óleo. Esses organismos são a base da maior parte das teias alimentares marinhas e desempenham diversas funções nos oceanos.

Dentre essas funções, observa-se a produção de oxigênio para todo o Planeta e a manutenção de estoques importantes de carbono nas águas marinhas. Além disso, muitas espécies de importância econômica possuem seus primeiros estágios de vida no plâncton, mostrando que a degradação das manchas de petróleo pode afetar alguns estoques pesqueiros da região.  

Pesquisadores do Laboratório de Ecologia do Plâncton, do Departamento de Biologia da UFRPE, liderado pelo professor Mauro de Melo Júnior, em parceria com os laboratórios de Fitoplâncton e de Zooplâncton Marinho do Departamento de Oceanografia da UFPE, representados pelos professores Pedro Melo e Sigrid Neumann Leitão, têm investigado os efeitos dessa degradação das manchas de óleo na costa do Estado. Ainda contam como parceiras nesta pesquisa as pesquisadoras Dra. Renata Campelo e a doutoranda Cynthia Lima (PPGO/UFPE), ambas do projeto Reciplas.

Particularmente para a região de Tamandaré, litoral sul de Pernambuco, este grupo tem estudado uma área inserida na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, por intermédio do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD Tamandaré, coordenado pela professora Beatrice Padovani Ferreira (UFPE), e do Projeto Recifes Costeiros (Fundação Toyota-SOS Mata Atlântica), coordenado pelo docente Mauro Maida (UFPE).

Há três anos a equipe vem estudando a estrutura e as taxas de mortalidade do zooplâncton da baía de Tamandaré, que resultou na dissertação de mestrado do egresso do Programa de Pós-graduação em Ecologia (UFRPE), Alef Jonathan da Silva. Na última campanha realizada em Tamandaré (24/10/2019), os pesquisadores constataram pequenos fragmentos de petróleo (Figura abaixo), mostrando que esses minúsculos pedaços de óleo estão disponíveis para animais filtradores, tais como ostras, sururus, corais, esponjas e cracas. No entanto, a maior preocupação é pelo fato de quê o zooplâncton pode acumular esses poluentes em seus corpos e passar para outros animais que consomem esses organismos (larvas e juvenis de peixes, por exemplo).

Vários estudos demonstraram que o zooplâncton pode absorver hidrocarbonetos de petróleo dissolvidos, porém há evidências crescentes de que o zooplâncton também pode ingerir fragmentos do petróleo bruto. A análise de algumas das amostras coletadas em Tamandaré reforça essa hipótese. Amostrar coletadas de alguns copépodes, pequenos e abundantes microcrustáceos marinhos, mostram os mesmos com manchas de óleo nas pernas e com provável petróleo no trato intestinal.

Foi encontrado, ainda em estágio inicial de vida, um caranguejo com a mandíbula (parte do aparelho bucal) com vestígios de contato com o petróleo. Isso reforça a preocupação com o efeito do impacto do petróleo sobre a manutenção dos estoques pesqueiros e a sustentabilidade da pesca no Estado de Pernambuco.

As pesquisas sobre o impacto do petróleo sobre a biota planctônica ainda estão em sua fase inicial, mas já apontam resultados preocupantes. O Laboratório de Ecologia do Plâncton (Leplanc) iniciará uma série de campanhas em outras regiões do Estado (rio Capibaribe, alguns pontos da Ilha de Itamaracá e na região do rio Una), em busca de mais informações sobre o grau de degradação e os efeitos sobre a biota das manchas de óleo na costa do Estado. Além da continuidade das pesquisas no contexto do PELD-TAMS, estão programados ainda monitoramentos das taxas de mortalidade do zooplâncton por meio de técnicas rápidas de análise (uso do corante Vermelho Neutro e realização de experimentos de decomposição de carcaças em laboratório) e acompanhamento da caracterização da estrutura da comunidade planctônica.

Vídeo no Youtube de algumas atividades do Leplanc em campo: https://www.youtube.com/watch?v=7177cWFASWU